
Vende-se muito a ideia de que estamos sempre com pressa. Seria uma generalização ou uma exigência do mercado de trabalho, que prioriza a redução no tempo de resposta, que estamos deixando entrar nas nossas vidas?
Essa semana reparei que minha irmã, de 11 anos, minha afilhada e meu primo, ambos com 7 anos, vivem um tempo diferente do meu. Não sei se é pelo excesso de coisas ofertadas para eles desde que nasceram, como videogame, 200 canais de tevê, internet e dentro desta um mundo de coisas para fazer.
Sinto que hoje tudo para eles é mais rápido, tudo é extremo, bipolar. Ama-se uma coisa o a odeia, não existe meio termo. Quando falo eles, também falo dos muitos coleguinhas que deles e percebo essa mesma postura.
Minha primeira hipótese seria a relação crescimento/oferta de lazer, o que geraria um hábito, mas como todo filme de terror, descobri que o buraco é mais embaixo.
Como descobri? Andando no supermercado. É impressionante, as pessoas correrem, querem evitar ficar 5 segundos parados esperando o outro sair da frente. Parece que vivem num constante engarrafamento e querem fugir dele.
Então você deve falar “Ah! Mas o mundo está mais conectado, as pessoas precisam ser mais ágeis!” e eu te pergunto: Por que uma dona de casa, atendente de consultório dentário, trocador de ônibus ou faxineiro é afetado por essa “pressa”? Convenhamos, um executivo está mais conectado e precisa responder muito mais rápido que os outros. E quantos executivos você conhece? E quantas pessoas aceleradas você vê na rua? São todos executivos? Acho que não.
Colocaram na nossa cabeça que precisamos fazer tudo para ontem, que esperar é uma tortura. Como no começo do texto eu disse, a linha não é tênue entre o “gostar” e o “amar” e ela é ignorada. Quando entramos para uma faculdade, já queremos o diploma de doutor. Conhecemos alguém interessante e com muitas afinidades, queremos ter filhos. Lemos a orelha do livro, queremos ver o filme.
Pra quê pressa? No final, todo mundo chega ao seu destino. E se não gostar? Vai pra outro. Esta é sua vida, não deixe que os outros te façam viver uma que não é sua.