As
montarias ignoravam o terreno molhado e a chuva ininterrupta. Ainda que a
estrada estivesse molhada e suas curvas formassem uma tênue linha entre a
montanha e sua encosta, não era possível diminuir o passo. O tempo urgia, era
preciso correr.
O povo guzayo tinha a predileção por chocobos. Eram
criaturas extremamente bem adaptadas ao clima desértico, precisando de pouca
água e comendo tudo que se move, logo foram incorporadas as aldeias e
caravanas. Suas potentes patas são capazes de grandes revoluções em combate e
extrema estabilidade em qualquer tipo de terreno. Tanto para perseguições,
quanto para o dia a dia, essas grandes aves são a principal forma de locomoção
deste povo.
À medida que desciam a montanha, aproximavam-se mais e
mais da sinistra floresta de Tumss. As árvores começavam a se tornar mais
comuns, variando no tamanho e aumentando sua quantidade. Abrandando assim as
poderosas rajadas de vento que os castigavam. Com o passar do tempo, cidade de
Madeena era transformada aos poucos em um pequeno candelabro bruxuleante,
pregado no topo da soturna montanha.
Densa e
misteriosa, a floresta de Tumss era o lar de belezas e abominações dignas das
histórias contadas para crianças na hora de dormir ou cantadas por bardos para
forasteiros e nobres entediados. A trilha formada pelo constante vai e vem de
pessoas acabou virando uma estrada informal, apenas a grama pisada apontava o
caminho de outros que foram bem sucedidos em sua travessia.
Assim
como um adulto que abraça uma criança, a comitiva foi cercada por todos os
lados da trilha pela floresta. Suas árvores altas atrapalhavam qualquer
claridade significativa de entrar, deixando pesados os pingos de chuva salpicar
nos ombros e no chão. Uma perturbadora e constante sinfonia que os ocultava nas
sombras, mas os atava de qualquer ataque surpresa.
- Atenção senhores, estamos em um
terreno potencialmente hostil. Fiquem em formação, não saiam da trilha e
qualquer movimentação suspeita reporte a todos! – Disse o capitão de forma
preocupada, a floresta a noite era um desafio e tanto.
Dentro
desta nova perspectiva, parte do grupo encontrava-se em um dilema, acender algo
ou continuar confiando em seus instintos treinados. A floresta poderia estar
parada com a forte chuva ou apenas aguardando a oportunidade para um bote
fatal.
- Não
gosto daqui no claro, imagine a noite. Comentou em voz baixa consigo mesmo um
dos soldados do flanco esquerdo.
- Até
as feras dormem filho - respondeu o líder da comitiva que ia a frente, formando
um losango, enquanto ajeitava o escudo no braço.
Oculto pelo capuz, o velho mergulhado em pensamentos conjecturas,
acompanhava tudo com pouca atenção enquanto toda a comitiva avançava de forma
ligeira, alerta entre as árvores e a parede de sombras que seus galhos
construíam.
Esse silêncio não é normal para esta parte da floresta,
está tudo parado demais. Estamos muito dentro da mata para tamanha calmaria.
Não demorou muito para o grupo entrar na região de uma
enorme clareira que surgia gradualmente. Com árvores antigas tombadas e que por
conseqüência, derrubaram mais algumas outras que estavam na proximidade. Abrindo
assim uma tampa para o céu. A chuva agora mais branda fazia do lugar um alento,
uma dose de oxigênio para um mergulhador já extenuado de um longo mergulho nas
sombras.
- Como
é bom voltar a tomar chuva! - falou o jovem soldado que antes reclamara da
floresta, levantando a viseira de seu elmo prateado com ornamentos azuis.
- Ver
as nuvens já é um prêmio dentro desse mundo escuro - comentou a jovem arqueira
atrás do velho.
-
Silêncio! Algo estranho aconteceu aqui. Essa clareira não existia até dois dias
quando passamos! Comentou em tom sério o capitão.
Estava oficialmente instaurado um estado de alerta em
todos. É necessária muita força para derrubar uma árvore sem cortá-la, o que
dirá de fazer uma clareira. Seja lá quem fossem os responsáveis por tal feito
monstruoso, poderiam estar despertos e nas redondezas.
- Sigamos,
não é hora de investigar nada. Independente de quem fez isso, não é de nossa
alçada. Disse em tom de aviso ao capitão um dos soldados que seguiam com ele na
dianteira.
- O que
o senhor acha Mestre? - perguntou um dos soldados.- Que seu amigo está certo. Vamos!
Mal a frenética caminhada iniciou-se e a clareira acabara
de ficar para trás como a lembrança de um agradável dia de verão frente a penumbra
implacável que os cercavam, os salpicos de chuva já eram desprezíveis. Talvez
pelo costume ou pela perda de vigor da tormenta.
Todo o
grupo parou em choque quando o enorme e dominador rugido de um trovão os
surpreendeu pela retaguarda. Os peco-pecos deram um leve salto de susto, alguns
guardas encolheram-se protegendo a cabeça.
-
Homens, isso é apenas um trovão! Disse de forma dura o capitão.
- Sem raio? Perguntou uma das
arqueiras.