domingo, 6 de julho de 2014

[Rascunho] Parte 01



                Passos apressados ecoavam pelo escuro corredor de pedras. As tochas pontuais rascunhavam a sombra de um jovem guarda. Com capa branca, armadura leve, sem elmo ou escudo, portando como defesa apenas uma espada curta no cinto. Era possível escutar a sua respiração já cansada, talvez uma longa e intensa jornada o desgastara.
                - Parado aí! – disse a sentinela de patente mais alta que tomava a frente da porta enquanto segurava com uma das mãos a espada e a outra a bainha.
                - Carta para o Coronel! – respondeu o jovem sem diminuir a velocidade.
                Conforme se aproximava da porta, mais clara era a intenção do guarda em detê-lo. Passo por passo, o jovem reduziu a carga para poder mostrar o envelope preto, com detalhes brancos. O guarda logo entendeu da urgência que se tratava, não era preciso mais dialogar. Era algo maior do que suas responsabilidades permitiam-lhe saber.

                - Rápido! Quarta porta à esquerda! – Ainda desajeitado, saiu da frente abrindo a porta o mais rápido que pôde.

                A porta de madeira escura, com barras de ferro em diversos pontos confirmava o seu destino. Qualquer pessoa em uma posição de comando elevada teria uma estrutura superior à dos demais membros.
                Batidas fortes na porta aparentemente maciça. Um breve período de silêncio e novamente a porta foi usada para chamar a atenção de quem estava dentro do cômodo. Logo o som de um molho de chaves crescia e não tardou para que o bagulho da tranca sendo aberta rompesse o silêncio do corredor.

                - Pois não? Em que posso ajudá-lo? – Atendeu em um tom amistoso a criatura baixinha, com uma barriga conquistada pela falta de exercícios e o avanço da idade, de pele azul celeste, cabelo e costeletas tão brancos quanto a neve que cai sobre as montanhas.
                - Coronel, entrega urgente para o senhor! Acabou de chegar! – Respondeu agitado o rapaz enquanto entregava o envelope. Sabia da urgência da sua missão, não tinha mais o que fazer.
                - Obrigado meu jovem. Pode se retirar. – Acenou com a cabeça a fim de expressar de que a ordem fora entendida. Imediatamente fechou a porta com uma das mãos enquanto olhava para a outra com o envelope negro.

                O pequeno homem caminhou pelo cômodo sem dizer nenhuma palavra enquanto aproximava-se da sua mesa. Tinha noção de que independente do que estava contido ali, não seriam boas novas e logo começou a procurar por alguma iluminação próxima à ele.
                Depois de trazer para mais perto de si uma vela, abriu o envelope. Era preciso ler com muita calma. A situação não permitiria erros.

Coronel,
                Estou escrevendo esta carta pois a situação exige muita urgência. Fomos atacados nesta última noite de Lua minguante por um grupo de selvagens.
                Perdemos diversos bons cidadãos pois quase não possuímos armas e tão pouco treinamento. Precisamos de ajuda imediata.
Prefeito Gaël.

- Como pode uma vila dentro do círculo tático ser atacada? Preciso encontrar uma patrulha para guarda-los enquanto formalizo os pedidos de tropas. – questionou-se cerrando os lábios, esculpindo uma máscara de dúvida em seu semblante.

Colocou a carta na mesa e tomou fôlego. Sabia que precisaria agir com urgência, mas tinha noção de que o esforço valeria a pena. Assim, levantou-se arrastando a cadeira para trás. O som reverberou pelo cômodo, extinguindo-se lentamente nas sombras das quintas. Os armários com livros de mapas, protocolos e plantas baixas escondiam o real tamanho do cômodo.
Abrindo uma portinhola no meio do grande armário repleto de livros, haviam quatro prateleiras com uma vasta coleção de frascos. Devidamente etiquetados, fracos com venenos raros, antídotos e essências perdiam destaque para um único que ficava isolado no canto. Feito de porcelana azul e ornado com sutis linhas douradas, era o único de todos que não possuía etiqueta.
Com o frasco em mãos, caminhou até a prateleira de pergaminhos em branco. Pegou um e estendeu-o sobre a mesa, usou um livro largo em um dos lados que teimava em se enroscar novamente e abriu a primeira gaveta para pegar uma grossa luva de couro que estava junto com seu par.
Já com a luva vestida na mão esquerda, colocou o fundo do frasco próximo à chama de uma vela que estava próxima. Não demorou muito, só queria aquecer o mínimo possível para poder usar o líquido.
Quando sentiu que o tempo necessário fora o suficiente, deixou pingar quatro gotas no meio do pergaminho. Com calma, tampou o frasco novamente e o repousou sobre a mesa. Uniu os dedos na forma de um bico de pássaro e os levou na direção da mancha vermelha que fora se formara. Ao tocar nela, abriu seu dedo polegar e mínimo, girou o pulso e assim desenhou um círculo envolta do centro, conectando as duas partes pela linha formada na abertura dos dois dedos.
Com a mão esquerda concentrou um pouco de mana. A luminosidade azul não fora forte o suficiente para vencer o amarelo das velas, mas o leve contato com a o desenho fez com que uma forte luz branca preenchesse o ambiente todo. Um zunido de algo sendo lançado fez com que um portal fosse aberto sete passos à frente da mesa. Do outro lado era possível ver a circulação de pessoas de um lado para o outro.
O coronel caminhou até o portal e como quem anda por uma casa com poucas portas, só sentiu que trocara de cômodo devido a profusão de novos estímulos. Os cheiros diferentes, os sotaques de todas as partes do reinado, misturados com o vento corrente que tornava o ambiente um pouco mais frio do que a sua sala, fizeram com que o experiente Coronel demorasse alguns instantes para se situar dentro daquele caos.

- Senhor, o que houve? – Perguntou a jovem alta, vestindo farda cinza escura, bota preta quase até o joelho, similar à um soldado pronto para o combate. Sua pele revestida de escamas verde-folha trazia mais contraste ainda com seu cabelo cor de laranja, preso em um rabo de cavalo perfeitamente alinhado.
- Recebi uma carta de Dagarkin. Nela está dizendo que sofreram um ataque no último dia de lua minguante e parece que alguns cidadãos foram mortos no confronto. – mantendo o semblante fechado, enquanto falava avaliava a reação da jovem, a seriedade em momentos de crise é o que mais chama a atenção nos umlilo. Ficaram em silêncio por alguns instantes enquanto mediam a seriedade daquela notícia.
- Alguma notícia do santuário? – perguntou a tenente com uma pitada de ansiedade para a resposta.
- Não dizia nada carta, mas provavelmente não sofreu com esse ataque. – respondeu impassível o Coronel tentando esconder a pressa.
- Isso tem dois dias! Muito estranho nenhuma patrulha que estava por perto notou a movimentação de invasores. – comentou enquanto virava-se para um grande mural com o mapa do reinado marcado com diversos pontos referentes à localização de sentinelas. Começou a avaliar se houvera alguma falha na patrulha enquanto vasculhava sua memória. – Subtenente Carnys, localize imediatamente a tropa mais próxima a Dagarkin!
- Imediatamente senhora! – respondeu o homem esguio, de pele violeta que vestia uma roupa azul escura e um cinturão marrom com detalhes dourados.