O
chão começava a vibrar, parecia que havia acordado de um longo estado de torpor
e agora recuperava o fôlego. O barulho de galhos sendo quebrados começava a ser
cada vez mais audível para toda a comitiva. Não era um trovão, mas algo
poderoso, potencialmente fatal e aparentemente determinado.
-
Corram! Vamos! Gritou o velho para todos que aguardavam ordens sobre o que
fazer.
Seja
lá o que fosse, não estava diminuindo seu ritmo. Ignorava as árvores que transpunham
o caminho, chocando-se contra elas e derrubando as de menor porte que postavam-se
contra sua rota. A floresta revelava para o grupo uma de suas feras.
Entretanto, os viajantes já experientes usavam todo o seu medo e força de suas
montarias para ganhar distância pela estrada irregular. Sentados com os corpos
inclinados, colocando suas cabeças ao lado dos pescoços longos de seus animais,
o grupo não saia de formação em momento algum.
- Prestem atenção! - gritou o capitão com olhar fixo no caminho.
-
Precisamos de espaço para ver o que é isso! - respondeu o velho mestre
igualmente focado.
-
Seja lá o que for, vai nos matar! - respondeu desesperada a guerreira do flanco
esquerdo
-
Rápido! Ele está chegando! - falava com uma voz abafada pelo manto a arqueira
que ficara por último na formação.
Cada curva
traçada era um convite para o choque entre a comitiva e a fera que aparentemente
avançava em linha reta. O chão pisado, coberto com cascalho, galhos, folhas
mortas e grama, virou uma escura estrada dentro de um mundo sombrio. Uma curva fechada
para direita, e uma das grandes aves escorrega numa pedra mais lisa, o grupo
consegue ver o guerreiro à esquerda começar a perder o controle. A àquela
altura da corrida não era mais possível parar. O corpo saindo de lado na curva,
o grupo acompanha-lo com os olhos, esperando uma reação que solucionasse de
forma positiva a tragédia que se aproximava.
Ao chegar próximo
da primeira árvore, o guerreiro estendeu sua mão como quem pega impulso numa
parede. Uma forte rajada de vento o freia, evitando o choque eminente com
alguma arvore. Logo seu o choboco, já acostumado com este tipo de situação
entendeu que havia se safado. Tomou fôlego e quando pensava em demonstrar algum
tipo alívio, o ruído das árvores sendo chocadas o fez lembrar que era preciso voltar
a correr com o mesmo vigor de antes.
A sorte
parecia estar do lado dos fugitivos. Conseguiam ver de forma direta, com a
ajuda da luz externa, uma estreita ponte. Feita de tábuas e cordas, ela os
esperava no fim do caminho. Um sorriso de alívio e de determinação começava a
tomar o rosto de cada um dos viajantes. Sabiam que seria a oportunidade
perfeita para escapar e ainda descobrir a identidade de seu perseguidor.
- Não
parem! Estamos quase lá! Quando chegarmos perto saltem com toda força! - falou
o capitão enquanto estimulava sua montaria a colocar mais força nas passadas.
Ser atacado por uma criatura grande, num espaço fechado seria a sentença de
morte de todos ali.
Não demorou
e logo a comitiva já havia saído da cobertura de árvores que os sufocava. O caminho
estava livre até a frágil ponte que os aguardava. Debaixo dela, um fundo e
escuro abismo era guardado. Independentemente do tamanho de seu perseguidor,
seria impossível transpô-la sem não correr o risco de desabar.
Confiantes,
a comitiva ignorava o fato de que a ponto não suportaria nenhuma das montarias.
Em uma breve análise, era fácil constatar que estavam fadados à enfrentar seu
perseguidor numa estreita faixa entre a queda e a floresta. A cada passo que
davam, não demonstravam nenhum tipo de medo quanto ao abismo, estavam realmente
dispostos a saltar.
- Vamos! –
gritou o velho para os membros que estavam à sua frente.
Ao chegar
no limiar do terreno, toda a comitiva vez o mesmo gesto visto dentro da
floresta. Empurraram o ar como alguém que pega impulso em um objeto sólido. A
forte rajada de vento emitida por cada um deles ajudou com que todas montarias
saltassem bem mais longe do que era imaginado. Vencendo assim o obstáculo
assassino de uma queda definitiva.
O pouso
fora tranquilo. Não era novidade fazer este tipo de manobra para livrar-se de
um perseguidor ou para abater um alvo. A única resposta que ficava agora era:
Quando o mistério seria solucionado.
- Odeio
esperar, cadê aquela coisa? – disse a última arqueira tirando o manto da cabeça
e descobrindo a boca.
- Logo
descobriremos. – respondeu o capitão com olhar concentrado na outra margem.
- Seja lá
o que for, estamos fora do seu alcance. – comentou um dos soltados que estava
na vanguarda.
As árvores
mantinham sua agitação. Logo era possível ver o vulto da criatura que os
perseguia. Durante todo este ponto da jornada. Boquiabertos com tamanho evento,
alguns dos guerreiros não acreditava no que seus olhos mostravam. A floresta
não poderia ter dado para o grupo algo tão terrível como teste.
Surgia
assim uma criatura bípede gigantesca, resfolegante da corrida. Com corpo cinza
e estrutura inclinada, sem nenhum tipo de pelo, ombros largos e musculosos
braços, que de tão longos quase tocam o chão. Não possuía cavidade ocular, mas
sua testa ostentava quatro pequenos olhos amarelos. Sua grande boca, de
aparência poderosa, guardava dentes pequenos, mas compactos o suficiente para
não poder serem contados.
Um Dilacerador nestas regiões? Como isso pode ter
acontecido?
A fera
inquieta não podia acreditar na barreira que estava entre ela e seu alvo. Caminhou
vagarosamente até a ponta do penhasco e constatou que não poderia saltar na
direção do grupo. A queda se não o matasse, iria deixa-lo consideravelmente
ferido. Virou de costas para o grupo e em um súbito movimento abraçou uma
árvore próxima, arrancando-a do chão.
-
Mexam-se! Ele vai arremessá-la em nós! – gritou o capitão dando meia volta com
seu passado.
Tarde
demais. O Dilacerador já havia arremessado a árvore como um potente dardo
gigantesco. O grupo não tinha mais opções. Seu último recurso era reuniu-se em
volta do ancião a fim de protege-lo do impacto principal. A missão não poderia
falhar. Seria impossível escapar do choque devido aos galhos presentes na copa.
O fim havia chegado.
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