sábado, 1 de março de 2014

[Guzayo~Parte~3]

O chão começava a vibrar, parecia que havia acordado de um longo estado de torpor e agora recuperava o fôlego. O barulho de galhos sendo quebrados começava a ser cada vez mais audível para toda a comitiva. Não era um trovão, mas algo poderoso, potencialmente fatal e aparentemente determinado.

- Corram! Vamos! Gritou o velho para todos que aguardavam ordens sobre o que fazer.

Seja lá o que fosse, não estava diminuindo seu ritmo.  Ignorava as árvores que transpunham o caminho, chocando-se contra elas e derrubando as de menor porte que postavam-se contra sua rota. A floresta revelava para o grupo uma de suas feras. Entretanto, os viajantes já experientes usavam todo o seu medo e força de suas montarias para ganhar distância pela estrada irregular. Sentados com os corpos inclinados, colocando suas cabeças ao lado dos pescoços longos de seus animais, o grupo não saia de formação em momento algum.

- Prestem atenção! - gritou o capitão com olhar fixo no caminho.
- Precisamos de espaço para ver o que é isso! - respondeu o velho mestre igualmente focado.
- Seja lá o que for, vai nos matar! - respondeu desesperada a guerreira do flanco esquerdo
- Rápido! Ele está chegando! - falava com uma voz abafada pelo manto a arqueira que ficara por último na formação.

Cada curva traçada era um convite para o choque entre a comitiva e a fera que aparentemente avançava em linha reta. O chão pisado, coberto com cascalho, galhos, folhas mortas e grama, virou uma escura estrada dentro de um mundo sombrio. Uma curva fechada para direita, e uma das grandes aves escorrega numa pedra mais lisa, o grupo consegue ver o guerreiro à esquerda começar a perder o controle. A àquela altura da corrida não era mais possível parar. O corpo saindo de lado na curva, o grupo acompanha-lo com os olhos, esperando uma reação que solucionasse de forma positiva a tragédia que se aproximava.
Ao chegar próximo da primeira árvore, o guerreiro estendeu sua mão como quem pega impulso numa parede. Uma forte rajada de vento o freia, evitando o choque eminente com alguma arvore. Logo seu o choboco, já acostumado com este tipo de situação entendeu que havia se safado. Tomou fôlego e quando pensava em demonstrar algum tipo alívio, o ruído das árvores sendo chocadas o fez lembrar que era preciso voltar a correr com o mesmo vigor de antes. 
A sorte parecia estar do lado dos fugitivos. Conseguiam ver de forma direta, com a ajuda da luz externa, uma estreita ponte. Feita de tábuas e cordas, ela os esperava no fim do caminho. Um sorriso de alívio e de determinação começava a tomar o rosto de cada um dos viajantes. Sabiam que seria a oportunidade perfeita para escapar e ainda descobrir a identidade de seu perseguidor.

- Não parem! Estamos quase lá! Quando chegarmos perto saltem com toda força! - falou o capitão enquanto estimulava sua montaria a colocar mais força nas passadas. Ser atacado por uma criatura grande, num espaço fechado seria a sentença de morte de todos ali.

Não demorou e logo a comitiva já havia saído da cobertura de árvores que os sufocava. O caminho estava livre até a frágil ponte que os aguardava. Debaixo dela, um fundo e escuro abismo era guardado. Independentemente do tamanho de seu perseguidor, seria impossível transpô-la sem não correr o risco de desabar.
Confiantes, a comitiva ignorava o fato de que a ponto não suportaria nenhuma das montarias. Em uma breve análise, era fácil constatar que estavam fadados à enfrentar seu perseguidor numa estreita faixa entre a queda e a floresta. A cada passo que davam, não demonstravam nenhum tipo de medo quanto ao abismo, estavam realmente dispostos a saltar.

- Vamos! – gritou o velho para os membros que estavam à sua frente.

Ao chegar no limiar do terreno, toda a comitiva vez o mesmo gesto visto dentro da floresta. Empurraram o ar como alguém que pega impulso em um objeto sólido. A forte rajada de vento emitida por cada um deles ajudou com que todas montarias saltassem bem mais longe do que era imaginado. Vencendo assim o obstáculo assassino de uma queda definitiva.
O pouso fora tranquilo. Não era novidade fazer este tipo de manobra para livrar-se de um perseguidor ou para abater um alvo. A única resposta que ficava agora era: Quando o mistério seria solucionado.

- Odeio esperar, cadê aquela coisa? – disse a última arqueira tirando o manto da cabeça e descobrindo a boca.
- Logo descobriremos. – respondeu o capitão com olhar concentrado na outra margem.
- Seja lá o que for, estamos fora do seu alcance. – comentou um dos soltados que estava na vanguarda.

As árvores mantinham sua agitação. Logo era possível ver o vulto da criatura que os perseguia. Durante todo este ponto da jornada. Boquiabertos com tamanho evento, alguns dos guerreiros não acreditava no que seus olhos mostravam. A floresta não poderia ter dado para o grupo algo tão terrível como teste.
Surgia assim uma criatura bípede gigantesca, resfolegante da corrida. Com corpo cinza e estrutura inclinada, sem nenhum tipo de pelo, ombros largos e musculosos braços, que de tão longos quase tocam o chão. Não possuía cavidade ocular, mas sua testa ostentava quatro pequenos olhos amarelos. Sua grande boca, de aparência poderosa, guardava dentes pequenos, mas compactos o suficiente para não poder serem contados.

Um Dilacerador nestas regiões? Como isso pode ter acontecido?

A fera inquieta não podia acreditar na barreira que estava entre ela e seu alvo. Caminhou vagarosamente até a ponta do penhasco e constatou que não poderia saltar na direção do grupo. A queda se não o matasse, iria deixa-lo consideravelmente ferido. Virou de costas para o grupo e em um súbito movimento abraçou uma árvore próxima, arrancando-a do chão.

- Mexam-se! Ele vai arremessá-la em nós! – gritou o capitão dando meia volta com seu passado.


Tarde demais. O Dilacerador já havia arremessado a árvore como um potente dardo gigantesco. O grupo não tinha mais opções. Seu último recurso era reuniu-se em volta do ancião a fim de protege-lo do impacto principal. A missão não poderia falhar. Seria impossível escapar do choque devido aos galhos presentes na copa. O fim havia chegado. 

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