A sombra do enorme tronco conseguia transformar a noite sem nuvens em algo ainda mais escuro. O Dilacerador arremessara outra árvore na direção do grupo e desta vez, seria impossível repetir o mesmo movimento. O objeto fora arremessado em forma de uma acentuada parábola, ainda que conseguissem desacelerá-lo, seriam esmagados de qualquer jeito pelo seu peso.
Do abismo sai uma intensa rajada de vento de baixo para cima. Forte como um tufão, fez com que a segunda árvore ficasse suspensa no ar tempo o suficiente para que sua copa tombe para baixo. Fazendo do projétil algo parecido com um enorme pião. O grupo, sem entender o que ocorrera esboça um misto de surpresa e alívio com o que acontecia diante de seus olhos. Mas antes que qualquer questionamento fosse levantado, já tinham uma explicação do que ocorrera com uma leve vasculhada do que estava ao seu redor.
À esquerda do velho que baixava o braço, um círculo de pálida luminosidade prateada ainda pairava no ar acompanhado de mais outros quatro com um oitavo do seu tamanho. Traços os preenchiam, magia formal fora praticada para tal feito ser alcançado.
- Rápido Narvat! Prepare-se! - gritou o velho enquanto corria para a beira do abismo na direção da fera.
- Sim senhor! - respondeu dando um passo à frente da linha a fim de ter espaço para começar a desenhar no ar.
Ao chegar à beira do abismo o velho saltou com força e velocidade na direção da fera que agarrava mais uma árvore. Poucos metros depois de seu salto uma grande rajada de vento o impulsionou com mais vigor ainda. Estava tão rápido quanto uma flecha quando ao se aproximar do Dilacerador o grupo apenas conseguiu ver saindo de seu braço direito uma intensa e ruidosa luz, semelhante à um pequeno raio.
Girando no ar, o velho guzayo decapitou a fera que estava de costas para ele. Escorando-se sutilmente no enorme corpo ainda de pé, pode ainda pegar impulso para saltar distante o suficiente para não ser esmagado com a queda do monstro agora morto.
Resfolegante o ancião observava o corpo da enorme criatura caída sobre o solo distante da sua cabeça. Mesmo dentro de toda calmaria, existia uma pergunta que não parava de ecoar na mente do velho mestre, "porque um Dilacerador estava nos acatando com tanta determinação?", mas nem ele e nem nenhum de seus companheiros poderia responder esta pergunta.
- Mestre, o senhor está bem? - disse o primeiro soldado ao cruzar a ponte.
- Sim, não se preocupe. Estou velho mas já tive adversários mais difíceis que este. - respondeu com um sorriso amarelo a pergunta, não queria ter executado uma criatura ignorante.
- Como o senhor fez tudo aquilo e tão rápido? - insistiu o rapaz que parecia perguntar por todo o grupo.
- Meu avô era do esquadrão Ukuduma. - disse o capitão sem se virar enquanto observava agachado o corpo cinzento estirado no chão formando uma enorme poça de sangue ao seu redor.
- Então é por isso que o senhor tem uma lâmina ukukhanya! - disse uma das arqueiras que olhava fixamente para a manopla branca a amostra que, além de exibir uma lâmina quase do tamanho do braço do velho, ainda era ornada com diversos escritos. Seja lá qual fosse o passado deste homem, a mereceu. Nenhuma espécie no mundo conseguia usar uma arma desta se não tivesse sido feita exclusivamente para a pessoa.
- Os peco-peco estão bem? Temos que partir o quanto antes! - falou o velho enquanto limpava a lâmina suja de sangue.
Um a um, rumaram para a estreita e frágil ponte. Aguardando a travessia do outro devido o seu peso, o grupo aos poucos voltava para suas montarias que os aguardavam pacientemente próximos à árvore tombada do outro lado. A floresta voltara a ficar silenciosa e calma. O tempo ainda urgia, mas talvez deste ponto da jornada mais nenhuma ameaça os surpreenderia.
Deixando seu velho avô ir na frente a fim de protegê-lo enquanto se recuperava, o capitão fora o último a se encaminhar para ponte.
- Como pode esse Dilacerador ser tão agressivo com viajantes mestre?
- É uma boa pergunta. Nunca vi algo assim. Talvez ele estivesse... - quando um rosnado voltou a cortar o silêncio da noite.
Assustados, todo o grupo postou-se em alerta. O avô e o neto viraram-se na direção do som. A cabeça do Dilacerador, mesmo cortada do corpo, ainda mostrava a mesma determinação de ferir os viajantes.
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