A
pequena praça fora tomada por um grande terror. Daqueles que você não consegue
fechar os olhos temendo o pior e nem tapar a boca para dar tempo de qualquer
grito fugir pela garganta.
As
quatro caminhonetes formavam um arco de isolamento entre a agência bancária e a
rua. Dez homens armados com fuzis e
carregadores vigiavam o bloqueio do cruzamento e a chegada de algum carro da
polícia ou forças especiais.
Dentro
da agência o gerente, duas caixas, um segurança e mais quatro clientes eram
mantidos como reféns:
-
Meu senhor, já
lhe disse, essa agência mexe com muito pouco dinheiro! – choramingava o gerente
enquanto os homens tiravam pacotes das bolsas.
-
Meu camarada,
entenda que o seu dinheiro já é nosso. Tente não bancar o herói. – rosnou um
homem fardado, com óculos tático e rosto encoberto.
-
Tudo
desempacotado, amarra logo esses caras! – ordenou um outro assaltante que
coordenava os outros membros.
O
calor do meio da tarde fazia com que as ruas silenciosas ficassem cada vez mais
nervosas. Aguardando alguma mudança de cenário repentina, uns temiam a troca de
tiros com os policiais, outros uma possível longa e traumática negociação pela
liberação dos reféns ou a fuga dos criminosos sem serem rechaçados. Qualquer
uma das alternativas parecia igualmente terrível
Distante,
mas já na linha de tiro, surge uma figura negra. A princípio parecia apenas
mais um louco. Vestido de preto, pés descalços e braços expostos, a única pista
que negava sua insanidade era o capacete tático. Deixando o visitante com
visual aparentemente assustador, já que o asfalto estaria a mais de 50˚C e não
se proteger seria um convite para queimaduras de primeiro e segundo grau.
Caminhando
convicto, o homem se aproximava cada vez mais rápido do bloqueio. Os assaltantes
confiando em seu treinamento, maior número e armamento, ainda questionavam a
sanidade de seu possível alvo.
-
Parado aí! –
Gritou o responsável pelos homens. Foi ignorado.
-
Vamos matar esse
otário! Tá achando que é super-herói? – gritou um deles.
Conforme
diminuía a distância, mais as atenções eram voltadas para o andarilho. Sua
caminhada era constante, não se mostrava abalado pelo calor ou pela ameaça de
morte que se fazia cada vez mais evidente.
Chegando
a aproximadamente 100 metros do grupo, no meio da praça, parou de andar. Ficou
por alguns instantes estático, atraindo o máximo de atenção para si e criando
uma cortina de tensão entre ele e os atiradores. Quando uma voz metálica saiu
de seu capacete:
-
Não vou me
repetir, então escutem. Larguem suas
armas, entrem nos carros e sumam daqui. Tenho permissão para não deixar
prisioneiros e é isso que farei. – falou o homem descalço.
-
Você acha que vai
nos matar? Você? Sozinho? Não fala merda! – gritou um homem grande, segurando
uma metralhadora proporcional ao seu tamanho.
-
Que assim seja. –
respondeu sussurrando o vulto enquanto tocava no lado do seu capacete.
Correndo
com passadas vigorosas, o barulho dos seus pés no chão de terra batida da praça
era abafado pelo das armas sendo destravadas. Em poucos instantes todos começaram
a atirar no vulto de mãos nuas. Seu deslocamento acelerado e as mudanças
bruscas de posição o tornavam um alvo difícil. Cada bala que o acertaria ficava
suspensa no ar, como se algo as congelasse. Em poucos instantes, uma pequena
nuvem prateada cercava o infiltrador.
Já
a alguns metros do grupo, muitos provocavam uma insuportável sinfonia de carregadores
sendo trocados. O desespero do grupo, antes confiante começou a atrapalhar os
mais próximos da barricada a recarregar com a precisão que o momento exige. E como
nossos erros nem sempre são perdoados, estes foram os primeiros a perceber o
tamanho do problema que poderiam ter evitado.
Saltando
de lado no meio do bloqueio, o invasor dilacerou os dois homens que ajudavam a
formar a primeira linha de defesa com apenas um movimento reto de suas mãos. Os
mais próximos afastavam-se para entender como seus companheiros foram mortos e
para sair da linha de tiro dos demais que também estavam apavorados com tamanha
violência.
Em
meio aos corpos caídos, atacante ainda curvado emitia um forte e profundo ruído
metálico oriundo da sua respiração. As mãos cobertas de sangue semiabertas
voltadas para cima, apoiadas nos joelhos, tornava a cena ainda mais grotesca,
frente a naturalidade do atacante em meio a um cenário de morte e ameaça
eminente.
-
Larguem as armas!
Vamos todos morrer! – gritou um homem mais velho, com alguns pelos brancos na
barba e rugas na testa.
-
Ele é doido!
Matou o Maurício e o Augusto que nem mosquitos! – comentou com lágrimas nos
olhos e voz trêmula um dos homens da primeira fileira. Seu rosto tinha gotas de
sangue de seus companheiros mortos, ainda estava agachado, não queria mais
lutar.
O
silêncio e a dúvida tomou conta de cada homem frente a figura selvagem que
permanecia imóvel e potente em meio a enorme poça de sangue que crescia. Aos
poucos, um de cada vez foi deixando suas armas no chão. Moviam-se sem realizar
movimentos bruscos, assumindo a derrota e dispostos a colaborarem com a
preservação das suas vidas e de seus companheiros. Nem todo dinheiro do mundo
valeria a pena.
Não
queriam mais lutar, esperavam uma troca de tiros ou alguma coisa dentro da
normalidade, mas aquele rival estava muito acima da sua compreensão. Não tinham
recursos para enfrenta-lo, seria melhor encarar um tribunal do que um caixão.
- Ninguém se mexe. Nós nos rendemos! – falou nervoso o homem grisalho com as mãos para cima.
- Ninguém se mexe. Nós nos rendemos! – falou nervoso o homem grisalho com as mãos para cima.
A
criatura lentamente começou a tomar uma postura ereta. Ainda respirando fundo,
ficou de frente para os oito homens desarmados, aterrorizados e de mãos
levantadas. Esperavam alguma atitude do seu juiz, provavelmente daria voz de
prisão para todos antes de entrar na agência. Mas teria muito trabalho por
causa dos reféns. Quando a voz metálica em tom extremamente raivoso bradou.
-
SEM PRISIONEIROS!
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