terça-feira, 15 de outubro de 2013

[Rascunho] Conto Parte 2 de 5

Todos estavam em silêncio. Além dos gritos e do barulho de coisas sendo quebrada, a discussão que acontecia na garagem, fez com que todos aguçassem os ouvidos para se antecipar aos fatos. Sentia-me parte de uma platéia nervosa e silenciosa, ansiosa para saber o que estava acontecendo. A cada segundo quieta, mais eu sentia um aperto na boca do estômago. Não demorou muito e logo dava pra ouvir passos apressados pelo corredor da casa, dois haviam saído, mas quatro voltavam. Algo muito ruim se aproximava.

O que está acontecendo?

Ver meus tios, primo e irmão mais velho chegando como um cortejo fúnebre acelerado nos fundos da casa iluminado por lanternas e pela Lua só atraía mais ainda a atenção para o quarteto de vultos.

- Todo mundo pra dentro agora e em silêncio. – falou calmamente, mas com clara pressa meu tio Luiz, era impossível não ser contagiado pelo seu nervosismo.
- O que houve? – minha avó perguntou preocupada. Sua natureza bondosa e sábia dava-nos a impressão de que poderia resolver aquele problema com um simples insight.
- No porão a gente fala tudo, mas agora é hora de entrar! Todo mundo! – respondeu o jovem magro e bastante alto, antes que o pai pudesse articular uma resposta sutil para a mãe de idade já avançada e saúde já um pouco delicada.

Naquele instante um forte barulho de metal chocando-se violentamente contra algo maciço nos surpreendeu. O portão do vizinho fora arrombado.

Gente, o que está acontecendo?

Nossos vizinhos gritavam, reclamando pelo ocorrido. Não tinham noção do que acabara de iniciar. Em poucos instantes, os gritos de revolta converteram-se numa maré implorando por ajuda, por paz. Mas os gritos só aumentavam, a cada vez que eu respirava, eles pareciam cada vez mais altos. Parecia que suas almas se desprendiam com a vibração das cordas vocais buscando timbres mais altos.

Somos os próximos! Mas por quê?

Apressados mas organizados, todos entraram em casa carregando o que estava por perto e que o medo não fizera esquecer. Um a um, entramos todos no porão munidos de velas, lanternas, cadeiras e instrumentos musicais. Crianças e adultos acomodavam-se, vozes sussurradas preenchiam o cômodo amplo e bastante escuro, até que meus tios pediram silêncio com um sopro chiado.

- Silêncio gente! Quero saber o que está acontecendo! – pediu meu avô, um senhor calvo que cultivava um belo bigode grisalho e uma barriguinha proporcional aos anos de sedentarismo, má alimentação e claro, muito cerveja.
- Pai, seja lá o que for, não é normal. Tem alguma coisa muito estranha acontecendo – respondeu meu tio Carlos, deixando ainda mais perguntas no ar e a tensão maior do que antes.
- Zumbis – respondeu o pré-adolescente, filho do mesmo que acabara de falar. A maioria achou o comentário infantil, inapropriado em meio à toda sinistra gritaria que acontecia perto da gente. Até que pelo visor do smartphone ele nos mostrou a página inicial com uma foto igualmente macabra, do principal jornal do país.
               
                Confesso que foi um soco no estômago, mas não acreditei de primeira. Brincadeiras sem noção e bem articuladas são como uma tradição familiar e até agora, essa era de longe a mais sofisticada de todas. Mereciam algum prêmio de interpretação e ambientação.
                Duvidando da autenticidade e munidos de telefones com acesso à internet, muitos buscavam em outras fontes para desmascarar aquela brincadeira sinistra. Tudo em vão. Era verdade. A cada instante que líamos mais sobre o tema, mais a escuridão parecia pesar nas nossas costas. Quando ouvimos batidas apressadas na porta de entrada do porão.

Quem seria? Todos estavam ali, não sobrara ninguém lá fora.

- Abre essa merda caralio! – falou em tom controlado meu irmão Ramon.
- O que você está fazendo aí muleque? – respondeu meu tio Luiz surpreso com a ausência do sobrinho em meio aos outros familiares que desceram para o porão.
- Abre logo caralio! – já com aparente pressa o jovem deu uma leve batida na porta.

                Ao contrário do meu tio, meu irmão era um homem de estatura mediana pra baixa. Seus olhos naturalmente escuros estavam mais ainda devido ao terror que as trevas nos traziam. Seu semblante duro dava sinais de que estivera em algo que faria provavelmente muitos de nós vomitarmos.
                Desceu as escadas logo atrás do meu tio. O rapaz carregava consigo uma mochila, provavelmente lembrou-se de pegar algo importante. Todos olhavam para ele, deveria ter pego remédios, comida, talvez armas. Ajoelhou-se no chão e começou a abrir a mochila. Ele perdeu um tempo pegando algo que todos nós tínhamos esquecido, celulares, alguns tables e notebooks

- Espero que vocês desliguem essas merdas. Não quero atrair a atenção de ninguém com qualquer toque escroto. – fechando a cara e olhando sério principalmente para as crianças que naturalmente são a principal fonte de ruído em qualquer ambiente.
- Ramon, o que está acontecendo? – perguntou minha mãe com tom preocupado. Era raro ver meu irmão tão sério e duro. Só em momentos extremos ele mostrava este tipo de comportamento. Fiquei preocupada, porque um dos homens mais duros que conheço estava muito agitado.
- Não sei o que é, mas pelo que vi, não tem mais ninguém vivo por aqui. Os Pinheiro estão em silêncio e os Deodoro também e seus portões foram arrombados. Se não morreram, estão escondidos. Vamos esperar amanhecer. – sentou no chão e buscou se escorar numa parede enquanto toda a platéia assistia atônita o relato curto e cruel que fora contado.

Estamos cercados?

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