Frio, silencio, paredes brancas. Definitivamente estou num
quarto de hospital. A janela atrás de mim oferecia uma vista esplendorosa da
cidade acordando. O sol nascendo, roubando o roxo da noite com o seu poderoso
laranja, começava seu reinado sobre as ruas com postes ainda acesos, estrelas
artificiais guiando a jornada dos viajantes diários para sua tradicional
jornada.
Tento me levantar e logo meu antebraço da uma dica do que aconteceu comigo
desde a ultima vez que me lembro. O sedativo, a ambulância, o sangue, os
corpos, os tiros e eles. O que aconteceu neste meio tempo? Será que mais alguém
sobreviveu? Os jornais, eles tem alguma informação?
Não encontro minhas roupas, estou deitado sozinho na sala. Sem
interruptor, sem nenhum tipo de comunicação com o exterior. Definitivamente
estou isolado. Preciso de informações. Preciso falar com alguém, não posso
ficar à deriva.
Procuro algum interruptor ou dispositivo parecido. Nada,
minha cama só tem lençol, travesseiro e eu. Bem, doentes fazem coisas sem
noção, essa vai ser a minha primeira vez.
- Alô! Acordei! – falei com toda a força que o meu pouco
fôlego permitia. Sem resposta.
Escuto passos pelo corredor, mas ninguém me atende. Bem,
pelo menos não estou morto. Vamos para a segunda etapa de loucura. Tiro do
pulso o soro que estava agarrado à mim, desço da cama e tomo coragem para
encarar descalço o chão gelado. Estico as pernas consideravelmente fatigadas,
parece que tomei uma surra. Tomo fôlego e coloco-me de pé, e sim, o chão está
gelado.
Caminho até porta sentindo uma dor parecida com a de
atletas já exaustos. Meu abdômen está destruído, meus ombros dão a impressão de
que carreguei carretas por horas, minhas coxas parecem ter participado de uma
maratona. Alguém atrás da porta vai me responder. Precisa me responder.
Seguro a maçaneta metálica, ela parece firme. Puxo de forma
sutil a fim de abri-la sem surpreender quem estivesse do outro lado. A porta
não abre. Tento desta vez fazer força contrária, vou empurrá-la. Aumento a
força, limpo a mão no avental e nada. Definitivamente estou trancado nesta
caixa branca.
- Para com isso! –
disse uma voz grave e forte.
- Que po... calmai, o que está acontecendo? – respondi
baixinho, confuso por não esperar a voz saindo da caixa de som nos cantos da
sala.
- Deite-se e feche os
olhos. Já estou chegando ai. AGORA! – trovejou a voz pela sala.
Ainda meio confuso com tudo, instintivamente segui as
ordens do microfone, deite na cama e fechei meus olhos, as respostas não
tardariam a vir.
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