domingo, 11 de janeiro de 2015

[Olhos~Lilás] Primeiro rascunho - Parte 3

Frio, silencio, paredes brancas. Definitivamente estou num quarto de hospital. A janela atrás de mim oferecia uma vista esplendorosa da cidade acordando. O sol nascendo, roubando o roxo da noite com o seu poderoso laranja, começava seu reinado sobre as ruas com postes ainda acesos, estrelas artificiais guiando a jornada dos viajantes diários para sua tradicional jornada.
Tento me levantar e logo meu antebraço da uma dica do que aconteceu comigo desde a ultima vez que me lembro. O sedativo, a ambulância, o sangue, os corpos, os tiros e eles. O que aconteceu neste meio tempo? Será que mais alguém sobreviveu? Os jornais, eles tem alguma informação?
Não encontro minhas roupas, estou deitado sozinho na sala. Sem interruptor, sem nenhum tipo de comunicação com o exterior. Definitivamente estou isolado. Preciso de informações. Preciso falar com alguém, não posso ficar à deriva.
Procuro algum interruptor ou dispositivo parecido. Nada, minha cama só tem lençol, travesseiro e eu. Bem, doentes fazem coisas sem noção, essa vai ser a minha primeira vez.

- Alô! Acordei! – falei com toda a força que o meu pouco fôlego permitia. Sem resposta.

Escuto passos pelo corredor, mas ninguém me atende. Bem, pelo menos não estou morto. Vamos para a segunda etapa de loucura. Tiro do pulso o soro que estava agarrado à mim, desço da cama e tomo coragem para encarar descalço o chão gelado. Estico as pernas consideravelmente fatigadas, parece que tomei uma surra. Tomo fôlego e coloco-me de pé, e sim, o chão está gelado.

Caminho até porta sentindo uma dor parecida com a de atletas já exaustos. Meu abdômen está destruído, meus ombros dão a impressão de que carreguei carretas por horas, minhas coxas parecem ter participado de uma maratona. Alguém atrás da porta vai me responder. Precisa me responder.
Seguro a maçaneta metálica, ela parece firme. Puxo de forma sutil a fim de abri-la sem surpreender quem estivesse do outro lado. A porta não abre. Tento desta vez fazer força contrária, vou empurrá-la. Aumento a força, limpo a mão no avental e nada. Definitivamente estou trancado nesta caixa branca.

- Para com isso! – disse uma voz grave e forte.
- Que po... calmai, o que está acontecendo? – respondi baixinho, confuso por não esperar a voz saindo da caixa de som nos cantos da sala.
- Deite-se e feche os olhos. Já estou chegando ai. AGORA! – trovejou a voz pela sala.


Ainda meio confuso com tudo, instintivamente segui as ordens do microfone, deite na cama e fechei meus olhos, as respostas não tardariam a vir.

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