O barulho de chaves tentando adentrar a maçaneta deixou-me ansioso. Quem tentava abrir parecia igualmente nervosa. Na pressa de acertar o par, acabava escorregando e batendo na porta. Não tardou muito e acertarou a chave.
Escuto dois tipos de sapatos
preencher o ambiente. Um mais duro,
parecendo ser social, outro mais macio, emborrachado e pesado como o de um
coturno militar. Entretanto, apenas um odor se faz marcante, alguma mistura de suor, pólvora, gasolina e
fumaça.
- Não se mova! – disse a voz praticamente
dentro da cabeça.
- Como ele está? – falou uma voz
feminina em tom duro.
- Bem, os sinais vitais estão
estáveis, pressão arterial e todos os exames de imagem não apontaram nada.
Nenhum sinal de trauma ou de anomalia. – respondeu a mesma voz de antes, agora
escutada vibrando nos meus ouvidos.
-
Vou tocar
o seu braço, isso vai inibir qualquer reação sua. Minha mão está gelada, então não
se assuste! – falou novamente o estranho sem emitir nenhum som.
- Ele
está sedado? – disse a mulher duvidando das respostas do médico.
- Claro,
é o procedimento padrão hoje em dia. A senhora sabe que os Olhos Lilás são
armas ambulantes. – respondeu em tom cauteloso o homem.
-
Então como tirou o soro? – insistiu no
questionamento a mulher.
- Fudeu! – Pensei.
-
Ainda não,
quem sabe das coisas aqui sou eu, não ela.
– Respondeu o homem que estava ouvindo o que pensei.
- Talvez ele tenha acordado rápido e tirou, mas deixa eu
checar as pupilas dele. Também fiquei preocupado agora. – falou o médico
emitindo um tipo de click.
- Por favor doutor, só assim saberemos o que falar para aquela
família que está lá embaixo esperando notícias, junto com todos aqueles
jornalistas.
Meus olho direito abre pelas mãos de um homem de jaleco,
moreno, com cabelos cacheados, olhos castanhos e semblante determinado. Do
outro lado da maca percebo uma mulher alta, branca, sem maquiagem, rabo de
cavalo perfeitamente alinhado com uma farda escura, ornada com detalhes cor de
laranja e marcas de patente também chamativas.
- Nenhum
traço da anomalia. – Soltou meu olho enquanto desligava a lanterna e me jogava
mais uma vez .
-
Chame a família, menos uma merda a resolver. – respondeu
a mulher ainda de forma dura enquanto seus passos ficavam distantes.
- Boa garoto! Vou chamar seus pais! Mas fique
parado, você vai voltar a se mover agora e precisamos continuar com esse teatro
até que seja seguro. Certo? – tocou novamente o meu braço.
- Certo. – concordei inseguro.
-
Já volto
aqui. – Falou enquanto sua voz competia com a de passos se afastando e o da
porta fechando-se
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