-
Aqui! Esse está vivo! – gritou um homem de farda cinza, capacete e luvas
brancas.
No meio de luzes e muito barulho, incontáveis olhares
voltaram-se para mim, devo ter apagado e segundos viraram incontáveis minutos.
- O
que aconteceu aqui? – perguntei um pouco confuso.
-
Não se mexe, vou chamar ajuda. – respondeu em tom eufórico estendendo a palma
da mão aberta para que eu não me levantasse. Em vão. - Meu filho, você está bem?
– disse o homem vencido, agora estendendo a mão para eu me levantar.
-
Sim, acho que a minha pressão caiu. Sei lá. – respondi sem jeito, desmaiar é
sinal de fraqueza emocional frente a grandes problemas.
-
Vem comigo, você precisa ser avaliado antes de ser liberado.
Agora de pé percebi que estava deitado em um mar de sangue,
vísceras e corpos, adornados com vidro quebrado, estofado rasgado e metal torcido.
Desmaiar seria um detalhe, talvez uma vitória.
Me virando para porta senti minhas costas molhadas. As mãos
sujas de sangue denunciavam qual era o motivo. Mortos também sangram. Do lado
de fora, muitos carros da polícia, bombeiros, ambulâncias, imprensa e uma
multidão de curiosos. Quando comecei a descer as escadas de emergência pude ter
um leve rascunho do tamanho da tragédia. Todos me aplaudiam, gritavam de
alegria, estranhos me recebiam com sorrisos e abraços, ignorando o líquido
viscoso e avermelhado que agora eu sentia escorrer pelo meu pescoço e mãos.
-
Sai da frente! Sai! – gritava o homem pardo e roliço de farda grafite, boné e
bigode escuro que afastava os demais socorristas – Vai garoto, entra nessa
ambulância!
Fui praticamente
sugado pelo cacho de mãos que esperava por mim dentro da van branca.
-
Prende ele! Toca essa porra para o hospital! – gritou o enfermeiro negro de voz
forte.
-
Calma! Eu tô b... – não deu pra falar.
Como um campo gravitacional, não pude resistir a força dos
três pares de braços que me fincaram na maca. Com a velocidade de um artesão
treinando, fui devidamente amarrado.
Antes que eu pudesse realizar, já estava com uma seringa
presa ao braço direito, meus pés e quadril tiveram o mesmo destino dos braços,
devidamente amarrados. Por mais que eu tentasse convencer o homem de que estava
bem, ele simplesmente me ignorava. A idéia de ir para casa e ler as notícias
parecia cada vez mais distante. Eu estava bem, só tinha desmaiado.
-
Alguém cala a boca desse muleque! – falou com raiva o enfermeiro para os outros
dois aparentemente mais jovens.
Apaguei
mais uma vez.
0 comentários:
Postar um comentário